Estava eu em plena pasmaceira diurna, com a moleza em que o sol de hoje me fez mergulhar, quando resolvi tomar um banhinho. Em casa dos papás, durante o dia, obviamente sozinho, deixei o computador a tagarelar alto as músicas mais recentes que estou a ouvir e lá fui para a casa de banho. Coisitas preparadas, após um bocadito, (que isto quando não é em nossa casa demora sempre um pouco mais a angariar o necessário) e lá vai de despir. Neste entretanto oiço, para meu espanto, o autoclismo no WC ao lado. Ora, com a toalha a tapar as partes mais impróprias de se ver expostas, neste contexto claro, lá fui eu ver o que raio, ou melhor, quem raio estava em casa para além de mim. E não é que foi isto que vi sair de lá…



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Pergunto-me algumas vezes se este lugar tem leitores. E se os tiver o que esperarão eles deste lugar. A verdade é que sendo este o meu lugar, não é se não uma ínfima parte de mim onde algumas ideias, pensamentos, sensações, impressões, sentimentos e realidades vagueiam e surgem expostos e partilhados, ao sabor do que dita a minha vontade para o fazer. Este lugar não tem, nunca teve e duvido que algum dia venha a ter carácter de diário da minha vida pois, para além de pouco interesse, a isso nunca me consegui obrigar. Sou um eterno auto-indomado ganhando a minha vontade contra a minha determinação própria – sempre!

Estou quase sobre directa e ditou a minha vontade caprichosa que, em vez de dormir, hoje seria actualizado este espaço. Um post diferente. Desta vez: um relato de mim e do meu dia, porque também os vivo… Têm dito, algumas bocas críticas e sempre bem-vindas, que o blog está demasiado “deprimente”. Um melodrama constante e quase contínuo, quase sempre, em tons que roçam o poético. E em resposta a esses digo apenas que pouco mais sobra da minha realidade se não essa constatação melodramática da mesma.

Tão frequente, ouvimos nós dizer, que o dia começa com o amanhecer e um belo despertar. Pois, por muito que os tivesse procurado hoje, não os encontraria! Assombrado por uma insónia que deitou por terra quaisquer planos de deitar cedo e conseguir um sono reparador e rejuvenescente não me foi assim possível despertar, deixando-me o dia de hoje sem começo certo e o dia de ontem com final incerto. O trabalho decorreu com a agradável reviravolta da transformação do que seria um dia difícil e agitado na calma e facilidade de uma nova experiência. Embora deva fazer um pequeno reparo crítico à organização profissional e burocrática do mundo cinzento e emaranhado que é o Hospital de Santa Maria! E seguir-se-ão alguns dias de bom descanso, pelo menos assim espero.

Já em casa, fui abatido por uma leda pasmaceira que me arrastou para um estado de quase prostração e pé ante pé caminhando para o sono que acabou por se dissipar com chamadas telefónicas e investidas na internet – forte dependência de um ser solitário – qual espelho mágico da bela adormecida que por vezes não o é em sonhos mas sim na vida. E nesse espelho mágico surgiu a agradável surpresa. O filme que há tanto tempo esperava e ansiava finalmente disponível – Do Começo Ao Fim.



Foi então do começo ao meio e não ao fim como seria de se esperar, pois o ficheiro estava afinal corrompido em metade, que vi de um trago único, quase sem respirar, esta trama única e profundamente provocante. A exposição da liberdade do amor verdadeiro despregado de sentido e empecilhos alegóricos que a ele são associados, quase como chumbos numa bóia que a fazem submergir em vez de emergir a luz da vida. Uma história de mim, de ti e de todos, tocante e envolvente, contada por belas personagens que envoltas numa fantástica realização construíram uma grande obra, mesmo ficando eu a meio dela. E, casualmente, já que tão perto quanto possível estamos do dia do pai, não deixar de notar uma menção à relação paternal e filial que de tão pura e reminiscente à natureza humana se torna, para lá da razão, tão verdadeira na percepção da essência do que somos na nossa verdade e brilhantemente aqui retratada. E esta não é mais se não a minha critica, obviamente.

O dia seguiu o seu rumo final na cadência lenta e aconchegante do sofá, da manta e do aquecedor perdido nas conversas, nos encontros e desencontros, no reviver do ontem e no planeamento do amanhã, na tentativa pouco clara de ajuda aos amigos… No alívio de nós mesmos e das nossas vontades, nos caprichos, e no final, ainda com algum tempo para o despego da realidade e mergulhando na sensação de pertença e envolvimento que os Irmão e Irmãs me permitem.

Do começo ao fim… foi mais um dia! E por fim dormirei, espero eu.

About this blog

É mais um Blog de um Homossexual que vive (ou tenta viver) a sua vida. Alguém convicto que a orientação sexual não é uma escolha, que não sou diferente e como tal a descriminação não faz sentido... Será que ainda posso acreditar no Pai Natal??!!

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